Claraboia Arte Contemporânea
Texto de Alex Hamburger para nosso CAOS ESPECÍFICO, setembro/2010,
MEN SANA IN CORPORE INSANO
É amplamente reconhecido que em matéria de invenções estéticas, o século passado abrigou todas as iniciativas verdadeiramente reveladoras do engenho humano, que possuíam como forte marca o arrojo e a aventura nas suas proposições, nas quais buscavam superar-se, e em alguns casos a todo o tecido social, com o propósito de redefinir comportamentos e eventualmente alcançar a total liberdade de espírito.
Numa sequência vertiginosa e demovedora eis que surge, por volta de 1960, um médium sem mensagens redentoras, perturbador, explosivo, eletroplástico e que de certa forma superava, pelo despojamento de sua provocação, a todos os demais: o meio performance. Os tempos, porém, não estavam ainda preparados para absorvê-la, fazendo com que seus passos iniciais ficassem restritos a um pequeno grupo de praticantes experi/mentais, talvez por se tratar de postura diante de questões de importância visceral na evolução do pensamento e dos fatos que os geram.
Transportemo-nos, agora, à primeira década do novo século e às atividades ocorridas entre aquelas primeiras incursões até a presente data. Foram, sem dúvida, avassaladoras em quase todos os campos numa precipitação que já se anunciara no horizonte desde o momento em que se percebeu que “um dia o artista trabalhará com capacitores, resistências e semi-condutores, como ele trabalha hoje com pinceis, violinos e sucata” (Nam June Paik – 1965).
Tempos propícios para a instauração, com força total, e por todos os cantos e recantos, cursos e recursos, do advento performático, com toda a sua carga de lirismo corrosivo e irreverência reciclada, permeando e deixando se inocular por todas as expressões que buscam desafios, do poema à música, das artes visuais ao vídeo, da fotografia à cyber art., no sentido de operar as transformações a que originalmente se propôs.
Passando à uma espécie de ação reflexiva, pode-se falar de duas ou três coisas que sabemos dela, como a sua constituição híbrida, que tem como ingredientes para um perfeita ebulição a colaboração expressiva de pelo menos 7 outras técnicas, elegendo como seu preferido o cabalístico nº 7 – ilusão, arcano – que nos permite começar a ousar, pulando apenas uma casa e deixar-nos alusivamente converter em ‘adesistas’ de uma oitava nota, uma semi-colcheia, definitivamente intensa e inesperada, como na filosofia de pára-choque de caminhão, lógica contra-senso, café simplicísmus e seção da tarde, implosão da grandiloquência e do tédio, eis o que poderia ser uma excelente utopia para uma sugestiva aproximação arte/vida.
Para que possamos passar à sua elaboração, nada deveria ser desprezado, desde o mais banal dos objetos às intuições que repensam o homem, filosófica e politicamente, num exercício constante, conquanto efêmero, dado o seu aspecto transgressor, que é como as coisas se manifestam no real.
Interferindo no cotidiano, ou como diria Éluard, por todo azeviche doze horas, no verdadeiro sentido de intervir no tempo e no espaço em que gravitamos, vamos ao encontro do momento próprio em que se passa o imaginado, no qual se processa uma expectativa alternada, o que por sua vez provoca uma liberação jamais flagrada pelas instâncias lineares e de representação, além de se constituir num procedimento envolvente para retomarmos discussões ontológicas e contemporâneas, por pouco perdidas?
Alex Hamburger
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